sábado, 27 de novembro de 2010

O que verias se me conseguisses olhar?



E tu deixavas-te ficar por ali. Sem uma palavra. Sem um gesto. Sem um olhar. Quieta.  Muda. Fria. Ausente. Uns dias, estátua de vidro. Outros, de gelo. Tão transparente que deixei de te ver, mesmo quando olhava para ti.
Um dia quebraste-te e, mesmo colando-te os bocadinhos, já não eras escultura. Eras cacos de cristal.

Fábrica de Letras - Aqui fabricam-se palavras, sonhos e emoções.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O resfriado chega sempre às seis da tarde




Nos últimos dias tenho estado adoentada. É uma "doença" estranha. Bizarra. Esquisita. Sinto arrepios, espirros uns a seguir aos outros, o nariz que não pára de pingar (parece uma torneira mal fechada). Mas o mais estranho no meio disto tudo, é que só me sinto assim do anoitecer ao amanhecer.... Estranho. Muito estranho.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ervilha em vez de coração




Eu não tenho filhos. Talvez nunca os venha a ter. O sentimento que conheço mais próximo do que possa ser o amor por um filho é o que tenho pelos filhos que não são meus. Ou talvez até sejam. Os meus sobrinhos são filhos de coração. Racionalmente sei que não é a mesma coisa. Sei que não pode ser. Emocionalmente, não consigo imaginar um amor maior. Tenho o privilégio, de vez em quando, de lhes dar mimo e ralhetes, de afagar choros e gargalhadas, de curar joelhos esmurrados e sustos de papões.
Hoje foi o dia em que o meu coração ficou mirrado como uma ervilha por ter dado duas palmadas ao meu sobrinho mais velho. Porque foi mal-educado comigo e com o avô. Porque o comportamento persistiu depois de muitas advertências. Porque ele estava à minha responsabilidade. Porque não podia fingir que não se tinha passado nada. E porque amar também é educar...
Depois ele acalmou. Mais tarde pediu-me desculpa. Pediu desculpa ao avô. Conversámos. Dei-lhe mimo. Mas ainda me doem as duas palmadas que lhe dei.

Hoje foi o dia em que...


Passam-se dias em branco, em que me esqueço de pensar. Ando de um lado para o outro, a fazer o que é suposto que eu faça, a cumprir horários, a fazer coisas. Não porque sejam importantes. Não porque façam a diferença. Não porque a vida de alguém dependa disso. Apenas porque sim.
São dias iguais a outros dias quaisquer. São amontoados de horas que ficam para ali, esquecidos a um canto, sem que nada os distinga dos outros. E o pior é que chegam ao fim sem que eu me lembre sequer de dizer "hoje foi o dia em que..."

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Arranjava-me um cigarro? - Esta gente deve estar parva!



Numa altura em que o Natal já está novamente à venda em todas as lojas, chegam de todos os lados os apelos à nossa boa-vontade.
Eu não sou boazinha. "Boazinha" não é a palavra...
Não sou bondosa. Não, também não é "bondosa" que quero dizer...
Generosa. Também não é bem isso....
A grande questão é esta: eu gosto de dar. E dou. Tenho muito prazer nisso. Gosto de dar a quem quero e quando quero. Sem constrangimentos. Mas não gosto que mo peçam!  Se me pedem dinheiro na rua, não dou. Se me pedem para comprar pensos rápidos em parques de estacionamento, não compro. E se um desconhecido  me vê tirar o maço dos cigarros e me pede um, não só não dou como ainda faço má cara.  Não é pelo valor do cigarro, é pela atitude.  Não tem cigarros? Vá comprar. Não há onde comprar?Pensasse nisso mais cedo, como eu faço. Os cigarros são caros? Não fume! Mas não espere que os outros lhe sustentem os vícios...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Apetece hibernar


O Outono é uma estação que costuma trazer com o vento uma certa melancolia.
O frio, o vento e a chuva convidam a ficar em casa a bebericar uma bebida quente, com uma manta sobre as pernas. Mas as coisas já não são como antigamente... Se em anos anteriores podia ficar em casa a estupidificar em frente da televisão, este ano não o aconselho a ninguém. É que corremos o risco de ser atingidos acidentalmente por um noticiário o que, por estes dias, não é realmente aconselhável!
Eu reconheço que fingir que os problemas não existem não é uma boa forma de lidarmos com eles. Eu sei que a crise está cá, o FMI pode vir a caminho e sei lá o que mais nos irá acontecer. Mas este ano, ainda mais do que nos anteriores, basta ligar a televisão para termos a desculpa perfeita para fecharmos portas e janelas e hibernarmos até à Primavera.

domingo, 7 de novembro de 2010

The day after

Foto: http://www.flickr.com/photos/mjb/19813394/

Quem te manda combinar um almoço depois do dia de ontem? Onde tinhas a cabeça para usares num casamento uns sapatos lindíssimos, mas que te massacraram os pezinhos de tão altos que eram? Queres crescer, mas depois não cabes na banheira....

No dia em que o meu amigo se casou


Hoje o meu grande amigo de infância casou-se. Um amigo muito querido porque o escolhi muito cedo para ser também meu irmão.
Conhecemo-nos desde sempre. Éramos cúmplices de todas as brincadeiras e segredos.
Era com ele que as brincadeiras eram mais divertidas.
Brincávamos às "Lojas Charlot" (inspirados numa novela brasileira muito em voga por cá nos anos 80 - acho que se chamava Guerra dos Sexos) e eu era a chefe, ele era o chefe, e a nossa amiga que morava no rés-do-chão era a empregada.
Quando eu quis aprender a fazer malha, ele aprendeu também.
Quando as nossas mães não nos deixavam brincar juntos, eu ficava na minha varanda e ele na marquise da casa dele. E estávamos assim, à distância, mas sem nunca deixar de brincar.
Quando a minha mãe não me deixava ir despejar o lixo de bicicleta, ele ia ao meu lado na bicicleta dele e, quando as nossas mães já não nos podiam ver, eu ia na bicicleta dele e ele ia atrás de mim a correr com o meu caixote do lixo na mão.
Um dia deparámo-nos com um cão. Grande. Enorme. Gigantesco. Voltámos a correr para casa, cheios de medo e assustadíssimos, porque tínhamos visto um cão-boi.
A esse amigo desejo O MELHOR. Menos do que isso é pouco. Muito pouco, quando se trata do amigo que escolhemos para irmão também.

sábado, 6 de novembro de 2010

E se...? E então?

wherever the wind may blow

E se me disserem que é estranha esta minha mania de fechar um blog e começar outro? - É verdade.

Se me disserem que nada me satisfaz, que ando em círculos perseguindo a minha própria sombra, à procura nem eu sei de quê? - Não contesto.

Se me disserem que me desinteresso rapidamente de tudo, que não consigo manter-me num projecto por muito tempo, que voo (ou vou) para onde o vento me leva? - Não comento.

Se me me disserem que daqui a uns meses me desinteresso deste blog também, porque afinal o que me move é o desafio e a novidade? - Não respondo.

E se me disserem que estes finais e recomeços da minha imaturidade e instabilidade, que no fundo não sei o que quero? - Alto lá! E então?